A polícia da França prendeu na noite deste sábado o CEO do Telegram, Pavel Durov, no aeroporto Le Bourget, por crimes relacionados ao aplicativo de mensagens, anunciaram autoridades.
Segundo uma fonte ligada ao caso, o multimilionário franco-russo, 39, havia chegado do Azerbaijão. Ele deve comparecer amanhã a um tribunal.
A agência francesa de prevenção da violência contra menores havia emitido um mandado de prisão contra Durov, como parte de uma investigação preliminar sobre vários crimes, entre eles fraude, tráfico de drogas, ciberbullying, crime organizado e promoção do terrorismo, segundo uma fonte ligada ao caso.
Durov é suspeito de não tomar medidas para impedir o uso da plataforma com fins criminosos.
“Chega de impunidade”, declarou um investigador que trabalha no caso, acrescentando que foi pego de surpresa pela chegada de Durov a Paris, uma vez que o executivo era procurado.
Sigilo acima de tudo
O aplicativo de troca de mensagens online foi lançado em 2013 por Pavel Durov e seu irmão Nikolai, com o diferencial de que as comunicações podiam ser criptografadas de ponta a ponta e tendo sede em Dubai. O Telegram se posicionou contra a tendência das plataformas americanas, criticadas pela exploração comercial de dados pessoais dos usuários.
A plataforma se comprometeu a nunca revelar informações sobre seus usuários.
A prisão de Pavel Durov provocou inúmeras reações internacionais. “#FreePavel”, publicou no X (antigo Twitter) o dono da plataforma, Elon Musk.
#FreePavel
pic.twitter.com/B7AcJWswMs— Elon Musk (@elonmusk) August 25, 2024
O ex-candidato independente à presidência dos Estados Unidos Robert F. Kennedy Jr, que acaba de se juntar a Donald Trump, disse no X que “a necessidade de proteger a liberdade de expressão nunca foi tão urgente”.
Rússia reage à detenção
Na Rússia, onde o Telegram é uma das redes sociais mais utilizadas, com canais que podem ter várias centenas de milhares de assinantes, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que “a embaixada russa em Paris imediatamente se mobilizou, como é habitual” no caso de detenção de cidadãos russos no exterior.
Ela lembrou que muitas ONG internacionais condenaram em 2018 a decisão de um tribunal russo de bloquear o Telegram – medida que nunca foi totalmente implementada. “Você acha que desta vez eles vão apelar e exigir a libertação de Durov ou vão ficar calados?”, perguntou ela em sua página do Telegram.
Mais tarde neste domingo, a embaixada russa em Paris acusou as autoridades francesas de “recusarem-se a cooperar” com Moscou sobre o caso. “Pedimos imediatamente às autoridades francesas que explicassem as razões desta detenção e exigimos que os seus direitos fossem protegidos e que lhe fosse concedido o acesso consular. Até agora, o lado francês ainda se recusa a cooperar nesta questão”, acusou a embaixada russa em Paris, citada pela agência de notícias Ria Novosti.
Pressionado em seu país, Durov deixou a Rússia há 10 anos
Discreto, Pavel Durov disse em abril, em uma rara entrevista, que teve a ideia de lançar mensagens criptografadas após ter sido pressionado pelas autoridades russas quando fundou a VK, rede social concorrente do Facebook que criou em seu país de origem e que era usada pela oposição do país. Acuado pelo regime russo, ele vendeu a plataforma e deixou o país em 2014.
Durov contou que tentou se estabelecer em Berlim, Londres, Cingapura e São Francisco antes de optar por Dubai, cujo ambiente de negócios e “neutralidade” elogiou. “Acho que estamos fazendo um bom trabalho com o Telegram, com 900 milhões de usuários mensais que provavelmente ultrapassarão 1 bilhão de usuários ativos dentro de um ano”, afirmou o empresário.
No emirado do Golfo, o Telegram protegeu-se das regras de moderação do Estado, em um momento em que a União Europeia e os Estados Unidos pressionam as grandes plataformas a eliminarem conteúdos ilegais.
Com grupos de discussão que podem acomodar até 200 mil pessoas, as mensagens são por vezes acusadas de aumentar o potencial viral de informações falsas e de proliferação de conteúdos de ódio, neonazistas, pedófilos, conspiratórios ou terroristas.
A comissária russa de direitos humanos, Tatiana Moskalkova, disse que a prisão de Durov representa “uma tentativa de fechar o Telegram, uma plataforma de internet onde você pode aprender a verdade sobre os acontecimentos que ocorrem no mundo”.
O ex-presidente russo Dmitri Medvedev, por sua vez, afirmou ter avisado Pavel Durov, durante uma reunião “há muito tempo”, que ele teria “sérios problemas em todos os países” por causa da sua posição intransigente sobre a privacidade dos utilizadores.
“Ele calculou mal. Apesar de todos os nossos inimigos agora comuns, ele é russo – e, portanto, imprevisível e perigoso”, escreveu Medevedv no Telegram. ”Durov deveria finalmente perceber que a pátria, assim como a época, não pode ser escolhida”, completou.
(Com informações de AFP e RFI)